segunda-feira, 21 de dezembro de 2009

UMA MÃE ESPECIAL...


Na comida, inconfundível tempero,
Na casa, a limpeza e o grande zelo,
Mas não é só isso que me faz,
Lembrar minha mãe anos atrás.

Nas palavras, seu sotaque regional,
Nas roupas, uma discrição total,
Exemplo de vida e amizade,
Que guardo pela eternidade.

Bondade estampada em seu rosto,
Rancor nem mesmo à contra gosto,
E tive na vida pouco tempo,
De aprender tudo à contento.

Mas a saudade traz a certeza,
Que me deixou descrito a beleza,
Da pureza, do seu grande amor,
Que a família então dedicou.

Mas com certeza comigo estás,
E ao meu lado sempre andarás,
De longe orientando infelizmente,
À mim, seus filhos e muita gente.
Saudades...Saudades...

UM PAI ESPECIAL...


Bolinha de gude, quantas vezes não sei,
Pipa ao vento, não me relembro,
Pique esconde, então nem pensar,
Lembranças perdidas no tempo.

Tempo não teve para muito conversar,
Obrigações arcadas pela profissão,
Correndo na vida para dar o estudo,
Saúde, estabilidade e educação.

Sábado e Domingo, corrigindo as provas,
Para a próxima semana, aulas preparando,
Quanto tempo perdeu, sem poder ter perdido,
De ter passado comigo brincando.

Tristeza não tenho, então eu confesso,
Mágoa nenhuma, ao longo da vida,
Mas a saudade é a dor maior,
Do Walfrido, do pai, da despedida.

Mas o legado enfim foi deixado,
Talvez não o entenda, você.
Ser só pai é muito pouco,
Amigo é o verdadeiro querer.

A quantidade então não importou,
A diferença, foi a qualidade
Meu pai, meu cúmplice, meu irmão,
Meu amigo por toda eternidade.
Saudades...Saudades...

A NEVE...


Sabia que tinha apenas que continuar andando. Não tinha pressa, pois não tinha destino certo.
Todos os lugares seriam o seu ponto de chegada e também o seu ponto de partida. Em outros tempos, já havia sido expulso, literalmente de muitos lares, mas tinha a certeza de que nesta época seria diferente.
Sofria com o descaso de muitos e a falta de amabilidade de outros. Mas sempre foi perseverante. Nunca se abateu com nada e apesar de todas as recusas, teimava em continuar.
A neve protegida pelo seu casaco de couro e pelo guarda-chuva que insistia em carregar caia vagarosa e vigorosamente. Sofreu alguns escorregões, pelas calçadas encobertas pela fina camada, mas nada o desanimava. O frio, companheiro inseparável do vento cortante, e amigo incondicional da camada gélida, faziam-no sentir como que o seu corpo estivesse prestes a paralisar. Passou por várias ruas, vários bairros, várias casas e em todos os locais percebeu a luminosidade das lâmpadas, anunciando a chegada de uma época tão especial. Percebeu nestes locais, pessoas sós, acompanhadas, dirigindo seus carros, andando de ônibus e metrô, mas com a expressão no semblante do ar da pressa, da correria e da falta de tempo. Desta vez, optou em não bater em nenhuma porta, queria apenas observar. Foi-se embora, da mesma maneira como chegou. Triste e pensativo.
Poderia ter parado, escolhido uma ou muitas casas, mas preferiu não. Poderia até ter ceiado em alguma delas. Mas fomos nós mesmos, com a nossa pressa, que nos esquecemos de convidá-lo. Virou a rua do desprezo, esquina da individualidade, seguindo pela rua da esperança, de que no ano vindouro, as pessoas percebam que Ele é o mesmo, também no corpo dos sofridos e desamparados.

domingo, 20 de dezembro de 2009

OS ASSASSINOS...

Acham impossível, alguns simplesmente não entendem, outros se fazem de ignorantes e outros tantos, fingem acreditarem. Mas estou em todos os lugares, procurando ver de perto o que estão fazendo.
Às vezes bato insistentemente, pedindo para entrar e recebo um não de cara. Respondem-me do corredor, nem chegam à porta para me atenderem. Não sou bem vindo. Mas mesmo assim, dou um jeitinho e me faço presente, sem que me percebam.
Estou acompanhando o desmanche de mais uma central de distribuição de drogas, o seqüestro de mais um empresário honesto, a tentativa de estupro de uma bela menina, que apenas quer ser notada pelo rapaz que paquera, da pornografia da vida fútil do sexo, das pessoas da vida e daqueles que as mantém, trocando o prazer promíscuo do instante, por poucas cédulas. Vejo de perto filhos desrespeitando pais e pais espancando filhos, tentando apenas erradicar seus problemas.
Acompanho pessoas que utilizam o poder que conseguiram, para obterem sempre algo a mais em seu próprio benefício. Vejo profissionais, vendendo-se por simples trocados, deixando de assumir a responsabilidade que deveriam. Percebo assaltos onde bens como celulares, tênis de marca, bonés e míseros reais, passam a valer mais do que a própria vida. Acompanho as festas, os bailes, as baladas e a preocupação única de vender o corpo e aproveitar o instante como se fosse o único que existisse. Vivem o momento, vendem-se pelo prazer.
Estou presente nas discussões de trânsito, quando o motorista usa o seu meio de locomoção como uma arma, parecendo estar consumido pela raiva e pelo ódio. Vejo rapazes e moças perderem a vida pela imprudência, sofro ao ver pais de família atropelados por motoristas bêbados e crianças arrastadas pelas ruas como animais. Noto que armas modernas são criadas, com a desculpa da proteção de uma nação, mas que na realidade servem para a conquista do poder. Vejo povos inteiros, serem disseminados pela fome, quando com uma simples boa vontade o problema seria resolvido. Pessoas comem terra enquanto outros comem lagosta, com o sentimento único da individualidade. Vejo a indústria da guerra, onde pessoas morrem pelo interesse de bens e poder.
Fazem de conta que não me vêem. Sei que muitos, inclusive nem me conhecem, pois afirmam terem coisas muito mais importantes para se preocuparem, do que comigo. Pensando bem, passei para alguns a ser apenas mais um, no meio de todos.
Estou tentando registrar da melhor maneira possível, o que está levando estas pessoas a agiram desta maneira. Tenho que estar presente nestes momentos, como, aliás, estou em todos os outros locais, onde as pessoas perderam o sentido, a direção e o verdadeiro caminho.
Gosto de me fazer presente. Mas em alguns instantes, sinto involuntariamente, de que preciso achar melhores maneiras para ser notado. Muitos sequer me conhecem. Minha história já foi escrita, e gostaria simplesmente de que ela não servisse de modelo, mas apenas de direção. Confesso que às vezes sinto necessidade de interferir drasticamente, mas preciso conter-me.
Engraçado, sinto-me impotente.
Na verdade o caminho foi escolhido por eles mesmos, apesar de ter tentado de todas as maneiras, mostrar-lhes de que aquela direção não era a melhor.
Riem de mim. Fazem chacota. Virei motivo de piada. E Eu, presente em todos os momentos, mesmo imperceptivelmente, para alguns não sirvo para mais nada. Mas mesmo assim, quer queiram, quer não, estou próximo, presente. Sofro com suas dores e alegro-me com suas conquistas.
Abri portas, escancarei janelas, iluminei escuridões, mas simplesmente não me ouviram. E o pior é que eles mesmos sabem, de que a sua responsabilidade é ainda maior, pois apesar de não estarem fazendo a coisa certa, tornaram-se também responsáveis pelas outras vidas.
Preciso apenas que me queiram.
Pena que não perceberam que estão me matando aos poucos.
Morro a cada dia por todos eles.
Mas renasço com mais força.
Assassinaram-me a mais de dois mil anos atrás, e continuam hoje fazendo a mesma coisa.
Trocaram-me apenas.

sábado, 12 de dezembro de 2009

SONHO DE NATAL...

SONHO DE NATAL:(Uma simples homenagem a minha espôsa):
A neve que a poucos dias atrás, começara a cair com maior intensidade, anunciava a chegada da data mais especial de sua vida. O vento forte que trazia a sensação térmica de uma enorme geladeira, ligada em sua maior potência, fazia-a sentir-se congelada.
Sueli via-se como um boneco de gelo vivo. Ainda não havia se acostumado com tanto frio.
Mas afinal de contas, tudo isto valia a pena, pois teria o Natal dos seus sonhos. Aquele que sempre sonhara em toda a sua vida, nos mínimos detalhes possíveis, com a pureza de sua alma e da simplicidade do sonho de uma criança.
Como era possível estar ali naquela época, perguntava-se. Mas a resposta sequer passava de relance em seu cérebro. Queria sim aproveitar da melhor maneira possível. O céu encoberto por uma grande massa de ar frio, que irmãmente dividia o espaço com a neve, fazia-a imaginar estar em visita ao céu. Tudo era fantástico e maravilhoso. Não queria perder nenhum detalhe. Da janela onde estava, limpando carinhosamente a pequena camada opaca de gelo, formada interiormente do lado de dentro do vidro, via estarrecida a beleza incomparável de toda a vila.
As pessoas oriundas do local, teimavam em andar pelas calçadas cobertas pela pequena camada de gelo, anunciando uma das belezas mais raras do mundo, que poucos como ela ainda não haviam presenciado. Emanavam a felicidade. Seu coração era a de um poeta, fazendo comparações em sua própria alma. Se antes achava que as chuvas de outono, eram as lágrimas de felicidade do próprio DEUS, a neve era para ela o sopro divino da anunciação de um frio intenso, mas aconchegante, único, intransponível, inimaginável, belo por ser único e único por ser belo. As lágrimas neste instante eram transformadas, em pedaços do próprio céu. Imaginava que era a maneira que DEUS achou, de fazer as pessoas imaginarem-se estar no paraíso, recebendo de todos os lados os fragmentos da própria vida. A beleza do branco, que aos poucos cobria as cores dos telhados, das ruas e das calçadas, fazia-a imaginar estar nas nuvens do céu, do infinito, da liberdade reprimida pelo frio, mas extensa como a própria vida.
Olhando em sua volta, percebe a luz avermelhada da lareira, que corroendo os pedaços de madeira, fazia a fina ligação entre o calor e o frio. Aos poucos a intensa luz, iluminava toda a sala de estar, trazendo o prenúncio do aconchego, da segurança, da beleza simples e pura da divina luz. Retornando sua visão para o lado exterior, percebe que a mesma, em pequenos fachos, ilumina o imenso manto branco da neve com o seu tom avermelhado, como que demonstrando que o caminho da felicidade está nas coisas simples e puras da vida. A árvore de Natal, resplandecente de inúmeras bolas, enfeites e carregadas de presentes aos seus pés, parecia viva ao receber o aconchego da luz da lareira, retribuindo a luminosidade com o vai e vem do apagar e acender dos pisca-piscas.
Ao longe ainda pode perceber as inúmeras casas, que em sintonia, soltavam pelas chaminés a fumaça da igualdade, da esperança, da alegria, da fé, da simplicidade, da humanidade e do amor. Ao alto, as mesmas juntavam-se às nuvens e a neblina do local.
No mesmo instante, voltando-se repentinamente para a sala, percebe que a casa não tinha mais a lareira, mas em seu lugar via nitidamente um móvel antigo, que sempre foi o seu sonho. Bem ao seu lado a grande árvore de Natal, que quase atingindo o teto, parecia fazer parte de todo a mobília. Seus enfeites, de grande bom gosto, mas de simplicidade incomensurável, anunciavam a vida e o amor.
Percebe que a porta rústica, com grandes vidros coloridos no alto de sua moldura, anunciava a idade daquela antiga construção.
Assusta-se e olhando novamente pelo vidro da janela, percebe que a mesma agora é grande, atingindo quase que o teto da residência. Seu olhar paira em um instante para o jardim, visualizando uma branda típica chuva de Natal, substituindo a camada de neve.
Pessoas ao longe caminhavam com o sorriso estampado no rosto, demonstrando com ar de simplicidade e humildade, a alegria e a esperança.
Um leve toque em seu ombro, a faz voltar à realidade. Seu marido, dando-lhe um beijo carinhoso em seu rosto desperta-a para a realidade.
A emoção desprende-se de seu coração e, sentindo uma das maiores energias de sua vida, começa a chorar.
Nem havia percebido a chegada dos convidados. Sua nora, seu genro, seus pais, amigos, irmãos, cunhados e cunhadas estavam presentes. Percebeu a casa cheia, cheia de vida, de felicidade, de harmonia, de esperança e de alegria.
Sente-se privilegiada, e emocionada percebe as lágrimas que surgem em sua face, caírem vagarosamente ao chão e olhando de relance no vidro da janela de sua sala, percebe a presença única de Deus, independente do local ou do Pais onde estivesse.
Sueli havia sonhado, imaginado, simplesmente viajado em seus pensamentos e tendo a confirmação de que o Natal não é somente um dia, é a experiência diária, a aplicação da verdade, da simplicidade e do uso contínuo da palavra amor. Seus sonhos eram do tamanho de sua vida e de sua esperança.