De repente começou a suar de uma forma incontrolável, sentindo-se esvair em todos os poros. Começava a sentir-se mal, sabendo que em pouco tempo sua camisa estaria colada no corpo, desconfiando que logo perceberiam. Desesperava-se ali encostado na pequena poltrona da sala, aguardando o retorno de sua namorada. Seu futuro sogro, puxava assunto e ele de uma maneira acanhada tentava responder da melhor maneira possível. Imaginava que corria o risco de não agradar e isto o fazia suar cada vez mais. Era a primeira vez que havia ido à casa de sua namorada, que já estando juntos há mais de dois anos, insistia que fosse conhecer sua família. O silêncio surgido entre um assunto e outro, era motivo de um sofrimento incomensurável, pois no estado em que estava mal conseguia pronunciar qualquer palavra. Imaginava que qualquer som emitido por ele seria incompreendido ou até mesmo mal interpretado.
Para seu alívio, surge na porta do corredor a sua linda namorada, que achegando-se para bem perto dele, pergunta-lhe:
- Meu amor, você está bem?.. Está suando tanto!...
Aquela frase foi a gota d’água que faltava para entornar o pote que já estava prestes a derramar. Reiniciou o processo de transpiração que imaginava à segundos atrás ter controlado ou simplesmente inibido.
O pai da namorada, querendo melhorar o ambiente diz que não era nenhum bicho papão e fala que também sentiu-se desta maneira, quando foi pela primeira vez na casa de sua esposa.
Piorou a situação!... Agora o suor percorria todo o seu corpo e em um segundo sentiu escorrer em suas costas um pequeno filete, que seguindo toda a sua coluna vertebral, informava que iria extinguir-se vagarosamente no final da mesma.
Sentiu-se paralisado, tentando não demonstrar o incômodo que a situação lhe causava neste momento.
Pensava em como controlar aquele filete. Imaginou realizar um movimento brusco, para quem sabe tentar desviar a direção que tomava, mas sabia que se o fizesse seria percebido pelos presentes. Tentou fazer um movimento mais ameno, com a mesma intenção anterior, mas com a namorada ao seu lado, pressentiu que seria impossível.
O jeito foi suportar o suor quente extinguir-se em sua cavidade e não realizar nenhum movimento que o demonstrasse. Foram segundos longos que pareceram intermináveis. Situação incômoda, incontrolável, inconcebível e inteiramente embaraçosa.
Percebeu que ninguém havia notado nada, mas sentia-se neste momento, molhado, encharcado, mas um pouco mais aliviado.
Então surge na sala, a mãe de sua namorada, que apesar da beleza exposta no rosto e no corpo, foi imperceptível por ele, pois trazia em uma bandeja o chá que desde cedo era costumeiro beberem.
Antes de sair de casa com sua namorada, havia bebido um pequeno gole de chá de erva cidreira, que a mesma o acostumara, mas um novo gole para ele seria como a própria sentença de morte.
Mas como negar, no primeiro dia de estada naquela casa, fazendo-se conhecer pela sua futura família?... Impossível, imaginou!...
Percebeu novamente um novo filete vislumbrar uma nova descida, mas espertamente movimenta-se em direção ao bule, para educadamente pegar sua xícara. O movimento foi o bastante para desviar a direção, levando-o ao aconchego de sua barriga, um pouco enrugada pela posição.
O chá foi servido e antes mesmo que descesse completamente pela garganta, já imaginava o que poderia causar em seu estômago. O fato de estar ainda um pouco morno foi a sua preocupação maior. Engoliu apressadamente e antes de todos acabarem de degustar o conteúdo de suas xícaras, pergunta em tom bem baixo à sua namorada onde era o banheiro.
A mesma levanta-se, dando-lhe as mãos e o orienta como chegar lá. Não sabe como conseguiu chegar, quanto tempo levou e tão pouco como chegou tão rápido. Abre a porta rapidamente e sozinho naquele aposento imagina o que fazer para esconder o barulho que estava prestes à soltar. Levanta a tampa do vaso sanitário, e sabendo que se iniciasse o processo de urinar, perderia o controle que até o momento mantinha.
Começou á tossir bem forte, para que o barulho encobrisse o primeiro de uma série que viriam.
O primeiro veio tímido, o segundo com mais força e o terceiro e último, encorajado pela forte tossida que emitiu, surgiu avassalador, forte, corajoso, despojado e inteiramente desinibido.
Hoje já estão casados, não gosta de comentar sobre o assunto e não se lembra dos detalhes de como voltou à sala, e terminou aquele dia.
Mas de uma coisa hoje tem certeza...
De que chá de erva cidreira lhe dá muitos gases...